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Rita Roquette

O Vinho Acre Medicinal




O que mais me encanta no ofício de herbalista é o lado alquímico que se encontra enraizado na extracção das potencialidades medicinais das plantas.


O conhecimento das fases da Lua, da Astrologia, da Geografia e Ecologia dos espaços onde as plantas habitam, da parte da planta que tem afinidade com a pessoa ou especificidade que se quer tratar, do saber observar uma pessoa em atenção plena. .. Enfim esta alquimia é uma dança infindável entre o Cosmos e o Microcosmos, é o que mantém a curiosidade a um nível são e sempre em boa disposição para se estar ao serviço.


Quando comecei os meus estudos fascinava-me a forma como os diferentes solventes ou mentruums actuavam sob as plantas. Se eu infundir a Calêndula em água será que obtenho as mesmas propriedades fitoquímicas que conseguirei com uma extracção com aguardente vinica? Estas e outras questões levaram-me à minha maluqueira com os vinagres.


- O Vinho Acre -


A versatilidade deste líquido mostrou-se perfeita para a forma como via o herbalismo. Ensinar que o tratar de nós próprios faz parte de um ritual diário tão certo como a própria higiene não é tarefa fácil. Novos hábitos demoram a ser criados mas, se os trouxermos até à mesa onde quase sempre nos sentamos 3 vezes por dia para as refeições, então torna tudo mais fácil. Especiarias, condimentos, bebidas, alimentos, todos eles fazem parte dum programa de melhoramento das tendências desviantes do nosso centro, da nossa matriz saudável.


Por isso o vinagre me pareceu uma boa tentativa de infiltrar as propriedades medicinais das plantas para o cenário já conhecido de um almoço ou jantar, e que pode ser usado como desinfectante para limpar a casa, limpar os vidros, como tónico facial, desodorizante e também pode ser levado na nossa mala de primeiros socorros com múltiplas funções...


Quando se fazem vinagres medicinais as plantas devem ser usadas preferencialmente secas pois previne contaminações de bactérias no líquido mas na maior parte das vezes adiciono plantas frescas também, vão com outra vitalidade! Esta extracção acética tem que macerar pelo menos por 4 semanas num local fresco e sem luz directa do sol. Depois é só necessário coar e engarrafar. A vida útil destas tinturas pode ir até um ano ou mais e há quem defenda que as qualidades não se perdem com o tempo desde que guardadas da luz e calor.


- O vinagre dos 4 Ladrões -


Existe uma lenda que popula o imaginário francês que conta que durante as épocas de infecção da peste negra houve um grupo de ladrões que entraram por Marselha adentro e começaram a roubar casas e túmulos das vítimas da peste. Ninguém pensou que esse saque durasse muito tempo pois eles com certeza haveriam de ser contagiados e morreriam. Mas isso não aconteceu.


Os safados continuaram a assaltar até que foram apanhados em flagrante delito e tiveram que revelar o segredo da sua imunidade em troca de uma morte menos violenta que a da fogueira. O que os salvou foi um vinagre macerado com Alho, Alecrim, Absinto, Angélica, Arruda, Manjerona, Menta e Salvia. Este era dispersado por toda as suas roupas e vertido numa máscara que cobria o nariz e a boca.


Foi uma tintura acética que os salvou da peste negra e que provou para o imaginário comum que as plantas protegem quem as conhece, até um grupo de mal-intencionados!





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