Histórias são contadas e vividas, os mitos e rituais que hoje celebramos vêm de outros tempos, de outros olhos que viam e sentiam de forma diferente. Os nomes vão mudando, os olhos vão mudando com eles, mas a Natureza e os seus ciclos que maravilhavam quem os sentia eram quase sempre ponto inicial de inspiração para os contos que eram passados de boca em boca. Com mais ou menos detalhe, com mais ou menos expressão corporal, os contos sempre resistiram ao tempo porque não deixavam de ser contados e recriados, ganhando sempre uma nova vida.
Estamos quase a entrar no Solstício de Inverno, um ponto de inspiração para muitos, de grande importância porque põe fim aos dias que viviam na escuridão e à jornada do Sol que parecia querer mudar-se lentamente do Este para o Sul ou até mesmo desaparecer...
Durante os dias de Solstício - solstitium é a conjunção de sol e statum, que está estático - o Sol vai parecer que deixou de se mover, aparecerá no mesmo ponto no horizonte na direcção mais a Sudeste da sua rota durante três dias. Nalguns locais mais a norte (acima da latitude 67º) ele não aparece de todo durante estes três dias, imaginem o que seria apercebermo-nos que o Sol tinha decidido não aparecer mais, como se de alguma forma estivesse a testar o que nos é comodo ou dado como adquirido. Na noite do dia 24 de Dezembro mesmo ao anoitecer se olharmos na direcção Este, veremos 3 estrelas alinhadas, elas são parte do Cinturão de Orion, chamadas também de Três Marias ou de Três Reis Magos. Logo a seguir a eles vemos uma estrela solitária, que é também a mais brilhante do céu terrestre e o seu nome é Sirius ou Estrela do Oriente. Chega a meia-noite e este céu que nos é como telhado mostra agora no horizonte o início da constelação de Virgem, que se mostrará em pleno depois de três horas, enquanto nos concentrarmos nesta energia feminina estamos a ajudá-la no seu trabalho díficil de trazer a Luz de volta... Algumas horas passam e o Sol finalmente espreita no horizonte já numa nova posição que anúncia a nossa marcha em direcção à Luz: que alívio, que benção!
Neste primeiro dia que nos prepara para o Solstício de Inverno todas as preces eram direccionadas para a Luz e ao aconchegar os espíritos da Natureza na nossa casa, através de decorações, velas e lareiras que aquecem e convidam a ficar por dentro, preparamos o hibernar neste Tempus Hibernus/Inverno que está aqui para ficar por uns meses. Já não tememos a escuridão porque essa já passou, mas é preciso darmos tempo ao amadurecimento interior daquilo que nos tornamos para que com mais força e vontade o consigamos mostrar na Primavera, que agora parece distante mas que irá chegar.
Nesta altura plantas que encorporam a energia solar eram usadas para aprofundarmos o conhecimento de nós mesmos, para mergulharmos até ao nosso interior mais intímo e levarmos a luz até lá. Hoje vamos para além das suas propriedades medicinais que diferem consoante as partes da planta utilizadas, aqui estamos a integrá-las no nosso quotidiano de celebração e a ajudar a calibrar o Todo que somos quanto Indivíduos, Comunidade, Planeta e Cosmos:
O Louro - Laurus nobilis povoava extensas regiões mediterrânicas quando estas eram mais húmidas, hoje ainda vivem nas zonas mais húmidas e aqui no Minho parecem encontrar um lugar que lhes assenta na perfeição. O incenso feito de folhas secas de Louro ensina-nos através de um transe profético ou dizendo de uma forma mais suave uma meditação que nos mostra propósito e era normal usarem-se em sessões de divinação para ajudar na transcrição de visões. Ainda muita gente usa o louro como principal agente para dar sabor ao fumeiro e a verdade é que os enchidos são feitos nesta altura do ano, será que era só pelo sabor ou eram as visões que se buscavam por entre o fumo? Uma boa forma de nos conectarmos com o poder desta planta é em forma de banhos infundidos, onde se usam umas 10 folhas trituradas grosseiramente, estes banhos ajudam-nos a digerir o que a vida nos tem oferecido, a termos uma imagem mental do que nos foi dado e a intuir intenções concretas na nossa vida.
A Camomila - Chamaemelum nobile antes Matricaria chamomila atreve-se a florir por agora, mesmo que em pouca quantidade traz o poder purificador da luz materna aos nossos jardins e prados. A Camomila está medicinalmente muito ligada à hiper-sensibilidade que muitas vezes nos cria irritação tanto da pele como no sistema digestivo e nervoso. É nesse estado de sentirmos tudo ao mais infímo pormenor que estamos durante o Solstício, para não nos deixar-mos levar pela irritação a Camomila aparece para nos acalmar e nos dar uma sensação de que tudo irá acabar bem, quase como se fosse a voz conhecedora do nosso eu mais antigo que nos mostra que o sol vive dentro de nós. Ao aplicarmos óleo macerado com flores de Camomila estamos a transmitir ao nosso maior orgão físico - a pele - as qualidades luminosas que precisamos e ao mesmo tempo a criar uma forma de aceitarmos a nossa sensibilidade acentuada.
O Pinheiro - Pinus spp. nas suas muitas espécies traz paz e reconciliação quando presente em forma de partes da planta: agulhas, ramos, pinhas, pinhões ou resina. Bastante tribos nativas da América do Norte viam os pinheiros como as Grandes Árvores da Paz e quando necessitavam de resolver conflitos procuram a sabedoria destas coníferas para chegar ao concílio. Para trazermos o Pinheiro até nós podemos usar a resina em pedaços pequenos e deitá-las em cima das brasas para ajudar a criar uma relação estabilidade connosco mesmos, quando a auto-crítica se torna dominante neste nosso caminho de Inverno. Também se pode fazer pequenas lamparinas de resina como forma de manifestar a vontade de nos mantermos no caminho de paz nesta altura de batalha interior, da mesma forma pode fazer-se incenso com carvão de pinheiro, resina e casca do mesmo ou a resina dissolvida em álccol pode ser utilizada em pontos do corpo para equilibrar desarmonias e renovar o equilibrio mental e espiritual e aceitarmos o melhor de nós.
O Zimbro - Juniperus communis é uma espécie conífera que produz uma "pinha" que se assemelha mais a uma baga. Cresce em terrenos pedregosos, secos, expostos, frequentemente mordiscados por gado, passa portanto por vários testes de resistência e todos eles são superados e o fazem mais forte. É esta força de guerreiro que nos consegue passar quando intencionamos aprender com ele, ajuda-nos a resolver entraves que nos detêm de sermos seres mais luminosos, desta forma ajuda a expandirmos a nossa consciência para termos a certeza que agiremos como agentes de mudança no começo do novo ciclo que nascerá com a Primavera. As bagas ou os ramos podem ser usadas como incensos ou adicionadas às brasas para fumar/purificar espaços e pessoas. O óleo essêncial quando inalado transmite todas as certezas de quem resistiu às tempestades d'um ano que jáestá quase a terminar. Esta partilha não serve de forma alguma para confrontar as vossas crenças, simplesmente vem com a esperança de vos conectar a esta história descrita por tantos antes de nós, com personagens tão diferentes, mas todas com as mesmas origens. Estamos todos ligados, somos todos inspirados pelos mesmos movimentos Celestes, Terrestres e de Luz.
Um Solstício com intenções de nos tornarmos sempre melhores,
Bloom Sativum