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Reprodução de Microorganismos Nativos


Enquanto estivemos nas Jornadas de Soberania alimentar no Campo do Gerês aprendemos com o Javier e a Alexandra da Simbiose como fazer a Reprodução Artesanal de Microorganismos Nativos, e ficamos cheios de vontade de fazer aqui em casa. É uma forma fácil, económica e exponêncial de melhorarmos a fertilidade dos solos, ao trabalhar com os compositores indígenas de onde vivemos, sabemos que se vão adaptar bem e vão saber como funcionar e melhorar os ciclos deste solo em particular: mais local é impossível!

Saímos de manhã em direcção ao bosque, coisa que já faz parte do dia-a-dia, mas desta fez fizemo-nos acompanhar de cestos para recolher matéria em decomposição que nos mostrasse já alguma inoculação de fungos. Recolhemos folhas bastante embrenhadas de branco micélico de uma zona de sombra do bosque, numa zona povoada em grande parte por Carvalhos - Quercus Robur, Sobreiros - Quercus suber, alguns Pinheiros - Pinus pinaster, Azevinhos - Ilex aquifollium e jovens Austrálias - Acacia melanoxylon....

Como mostra a fotografia, as folhas que trouxemos estavam cheia de vida mesmo que depois de caídas no solo, para esta reprodução não queremos tanto o solo em si, mas folhas das diferentes camadas de alcochoamento do solo do bosque. Depois de recolhermos cerca de 10 kg de folhas, não de um único só sítio mas de uma zona espaçada, voltamos a tapar as áreas com folhagem para que os organismos consigam continuar o seu processo e não se sintam expostos, nem agredidos.

Tinhamos encontrado uns dias antes numas raízes de Austrália - Acacia melanoxylon, os nódulos cor-de-rosa representantes das bactérias fixadoras de azoto e por isso decidimos adicionar à mistura para conseguirmos ter uma mistura positiva que engloba diferentes organismos, todos eles responsáveis por diferentes sectores de vida do solo.

Ao chegarmos a casa diluímos depois cerca de 1 kg de melaço e 2 kg de açúcar de cana em 3 litros de água morna e abrimos o saco de sêmea ou farelo de trigo no chão e num local plano começamos a misturar as folhas com o farelo e a mistura açucarada. Como quem amassa pão com frequência, sente-se qual é a textura certa, aquela que não cola demasiado às mãos mas que não está seca demais, mesmo na medida certa de humidade.

Depois de tudo bem misturado começamos a encher um barril com tampa, 15 cm de cada vez e vai-se pisando a mistura até ficar bem compactada. Repetimos o processo de encher e compactar até termos o barril quase cheio. Depois fechamos bem o recipiente com a tampa para que o ar não entre e esperamos 30 dias. Depois destes dias de proliferação de microorganismo a nossa sementeira de organismos nativos está pronta a ser activada e espalhada pela terra e aplicada foliarmente quando necessitarmos.

Recapitulando a receita:

Meia parte de folhas decompostas de um bosque próximo

1 parte de farelo de trigo ou arroz

3 kgs de melaço + açúcar de cana + água - como o melaço é bastante difícil de encontrar por cá usamos em menos quantidade, mas é o ideal porque tem mais minerais

O resulado são uns aglomerados fofos, com bocados de "algodão doce" que lhe dão uma textura leve e um cheiro semelhante a ananás, pelo menos foi o que sentimos, deu-nos asas à imaginação. Apesar de podermos aplicar directamente este resultado nas pilhas de composto conseguimos retirar mais valor se activarmos os organismos e os espalharmos pelo solo/ plantas, para isso temos que passar por um novo processo.

Activação dos Microorganismos Nativos

3 a 5 kg de farelo propagado por microorganismos activos

3 kg de melaço ou açúcar de cana diluido em água

150 lts de água

Pegamos em mais ou menos 4 kg de farelo propagado pelos microorgnismos nativos e deitamo-los num saco de ráfia ou juta, o resto pode ser guardado por mais de um ano num barril ou num saco fechado até necessitarmos de os usar. Num

barril de 200 lt adicionamos 150 litros de água à qual juntamos 3 kg de melaço ou açúcar de cana dissolvido em água. Adicionamos o saco com a propagação feita antes e pressionamos o conteúdo até este estar bastante molhado e submergir-se por si só, depois é só tapar o barril com uma manta ou tecido que deixe o líquido respirar. Ao fim de 3 dias em maceração podemos usar este preparado para aplicar no solo e nas plantas e de certa forma estamos a replicar a fertilidade do bosque nas nossas hortas e pomares.

Se quisermos podemos deixar um bocadinho no fundo do barril e adicionar água e melaço para repetir o processo desta vez sem o saco de microorganismo e podemos fazê-lo até 3 vezes, depois teremos que voltar a repetir o processo de activação inicial. O que acontece é que os microorganismos ficam infundidos na solução e ao voltármos a alimentá-los eles voltam a ser activados, no entanto, se repetirmos o processo mais do que 4 vezes acabamos por estar a atrair bactérias não tão benéficas. No entanto, um bocadinho de folhas empregnadas de micélio dá-nos para fertilizar o solo durante muito tempo e de forma eficaz, com a ajuda da vida que já habitava aqui muito antes de nós.

É magnífico pensarmos que tanto o nosso fermento de massa-mãe, como o kefir de água, os lacto-fermentados, o solo, as plantas que crescem nele e nós vivemos da mesma biologia nativa: estamos todos ligados!

Digam-nos como correm as vossas experiências, estamos curiosos por começar a ver as diferenças por aqui também...

Javier e Alejandra - http://www.ensimbiose.com/

Manual de Microbiología y remineralización de suelos en manos campesinas

de Jesús Ignacio Simón Zamora

Teaming with Microbes: The Organic Gardener's Guide to the Soil Food Web

de Jeff Lowenfels e Wayne Lewis

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