Nas semanas que passaram fomos colhendo as maçãs que iam caindo, das macieiras agrais mais silvestres às variedades cultivadas, uma a uma foram-se acumulando e foi de sacos cheios que fomos até casa do Miguel, nosso amigo e vizinho aqui em Freixieiro de Soutelo.
O Miguel e a Eva vivem na casa da família do Miguel e como é bastante típico nestas casas, não falta o rés-do-chão transformado em adega com todo o material que é precisso para prensar qualquer elixir vital à sobrevivência invernal. Apesar da produção de Sidra já estar meio que esquecida nestas bandas, os mais velhos ainda se lembram de a fazer e do bom sabor que ela tinha. Mas este vinho dos caseiros, como lhe chamavam, acabou por ser visto como inferior ao vinho da videira e foi posto de lado. A força que certos nomes encarregam às coisas podem mesmo prejudicar a cultura, se os patrões destes caseiros tivessem ao menos provado a delícia deste néctar não lhes voltariam com certeza a delegá-lo só aos seus trabalhadores.
Como em qualquer colheita tudo leva o seu tempo, há uma espécie de envolvimento que fala através de acções e não de pensamentos. De mãos pegajosas de tanta fructose entramos num ritmo que tem de ser sentido, um ritmo que confia que os processos têm tarefas que se encadeiam e que viram o fruto do trabalho, tão merecedor.
Lavamos o material e as maçãs, cortamos a fruta à mão, levamos as maçãs cortadas à esmagadora, estas vão para a prensa e com tempo e paciência o sumo espesso e doce vai saíndo na bica de granito... Foi um ano seco e as maçãs não tinham muito sumo, mas os 25 litros que saíram estavam bastante concentrados, só um fundinho do copo enchia-nos as medidas.
Foi um dia longo, trabalhamos das 3 da tarde até às 9 e tal da noite, mas estes momentos são os rituais que nos ensinam a ser o processo, a estarmos no momento e a trabalhar como uma colmeia. Aqui fica o registo, que nos relembra o bom que é trabalhar em conjunto, com os nossos amigos e a natureza!