A Primavera já se faz notar em toda a sua energia e força revitalizante. As plantas desdobram-se em espectaculares mudanças dia atrás de dia e somos surpreendidos a todas as horas. Onde no dia anterior podíamos encontrar um gomo aparentemente desvitalizado no dia seguinte somos surpreendidos com uma folhagem verde cheia de vontade de receber a luz que a faz vibrar, a ela e a nós. Chegou a época dos brotos, dos rebentos, dos botões!
Esta época do ano enfrentamos o acordar da hibernação de inverno, aonde a energia conservada na raíz começa a movimentar-se e a retomar o espaço que lhe é destinado. Foi assim que numa lua em quarto crescente fomos colher a casca dos ramos de Salgueiro, escolhemos esta data porque a energia e seiva das plantas se encontram mais concentradas nas extremidades da planta pois é o momento em que recebem mais luz lunar durante o ciclo lunar de 28 dias.
Quando usamos medicina natural e com fitoterapia em particular temos que tomar muita atenção às fases da lua uma vez que esta dita a concentração de constituíntes activos nas diferentes partes das plantas e por isso dizemos que a lua é mediadora da medicina, quase como a linguagem visível das plantas para que nós humanos consigamos perceber um pouquinho melhor o mundo intímo das plantas.
Nome Científico: Salix Spp (espécies) : Salix Alba , Salix Nigra, Salix Babylonica
Nome Comum: Salgueiro, Vimieiro, Vime, Sinceiro, Chorão Família: Salicaceae Parte usada : Casca dos Ramos, Folhas Energia : Fria , Amarga, Adstrigente
Orgãos Afectados: Fígado, Coração e Rins
Constituíntes: Taninos, Salicina
Usada em: MTC e Medicina Tradicional
Esta família botânica é vasta e contêm espécies de árvores e arbustos que são nativas das zonas temperadas na Europa, Ásia e algumas partes da Ámerica do Norte. O Salgueiro Branco é especialmente característico da Europa Central e do Sul e encontra-se com frequência em zonas húmidas: perto de ribeiros, rios, lagos ou zonas de encharcamento e não resiste a temperaturas extremas. Com um porte grande, chegando a atingir os 30 metros esta árvore destingue-se pelas suas folhas com um pó de tonalidade branca dando nome à espécie em questão e destinguindo-as das demais espécies da mesma família.
FITOTERAPIA:
A casca interior do Salgueiro Branco e algumas espécie semelhantes contêm Ácido Salicilico, a fonte original do ácido acetilsalicílico que constítui a Aspirina tão conhecida por todos nós.
O uso da planta para fins medicinais já data de escritos Sumérios, Egípcios, Assírios e Grécia Antiga com descrições do uso da casca para redução de estados febrís e dor, provavelmente uma das primeiras plantas descritas na história da humanidade para combater inflamações. Sendo usada ao longo dos séculos manteve-se em uso até aos dias de hoje para ajudar na redução da dor como no caso de reumatismo, artrite, dores de costas, nevralgias, espasmos gastrointestinais, menstruações dolorosas, usado nas mesmas condições em que a aspirina é usada.
A sua preferência em crescer nas margens dos rios ou cursos de água dá-nos indicações da sua característica mais chamativa e mostra-nos como esta consegue resolver sintomas que resultam de demasiada humidade estagnada no corpo como no caso de sinusites, colites, dores de cabeça relacionadas com congestão, bronquites... Neste caso o extracto de Salgueiro em tintura deve ser ingerido em doses pequenas de 3 gotas cada vez que o alívio seja necessário.
Os efeitos da casca de salgueiro são mais lentos a fazer-se sentir no organismo mas no entanto demonstra menos efeitos secundários, especialmente no estômago porque contem também taninos que por serem adstrigentes ajudam a contrair as mucosas gástricas e desta forma não as expõem à agressão do ácido. Os efeitos gerais são sentidos quando usados em prazos de 1 a 2 semanas sendo depois descontínuada a toma por uma semana e se houver necessidade volta-se ao tratamento, esta paragem serve para o organismo não criar habituação às propriedades fitoterapeuticas.
ATENÇÃO : não ingerir Salgueiro Branco se houver historial alérgico à aspirina ou se estiver a tomar medicamentos anticoagulantes e antiplaquetários como a varfarina porque pode aumentar as situações hemorrágicas. Não deve ser usado por crianças com menos de 17 anos porque pode criar desequilíbrios biliares nem por mulheres grávidas ou a amamentar.
Cápsulas: pode tomar-se até 3 vezes por dia - quantidade máxima de 200mg diárias
Chá: é difícil julgar a quantidade de salicina presente nos ramos mas de uma forma geral podemos tomar o chá 3 vezes por dia. Ferver 2 colheres de chá de casca cortada para 2 copos de água durante 20 minutos, repousar por 30 minutos pode e deve juntar-se canela, funcho, menta ou mel para melhorar o paladar do chá que é bastante amargo e adstrigente.
Tintura: tomar 15 gotas diluídas em um compo de água duas vezes por dia.
Lavagem: usar 5 colheres de sopa da casca partida em 1 litro de água e ferver durante 20 minutos, deixar arrefecer e usar como lavagem em caso de úlceras, queimaduras ou pé de atleta.
Mel Medicado: Usar 2 colheres de sopa de casca pulverizada em 3 colheres de sopa de mel deixar a repousar até quando for necessário. Tomar uma colher de chá em casos de dores de cabeça, nevralgias e enxaquecas.
JARDIM:
O ácido indolbutírico presente nos rebentos de Salgueiro serve como hormona de enraíxamento para as plantas e por isso tornam qualquer propagação de plantas perenes mais eficaz.
Ao deixarmos os rebentos do Salgueiro em água expostos ao sol por 2 semanas fazemos um chá solar para ajudar o enraízamento das estacas que queremos propagar ou por aplicação directa na raíz ou por rega do chá diluído a uma percentagem de 1 copo de chá para 10 copos de água . Pode também usar-se aguardente vínica ou vodka para fazer uma extracção mais completa dos constítintes, por esta via tem que se diluir 10 gotas de tintura por cada copo de água.
Esta faceta da planta foi denunciada pela facilidade de enraízamento que a própria planta demonstrava. Ainda hoje se vê Salgueiros em algumas zonas do país como delimitação de terrenos em que as pessoas em vez de usarem pedras (que poderiam ser mudadas ou removidas) os donos dos terrenos enfiavam estacas de Salgueiro com a certeza que estas virariam árvores sólidas que delimitariam o seu terreno do terreno vizinho.
OUTROS:
Ao usarmos os rebentos do Salgueiro ficamos com um sub-produto: os ramos mais lenhosos, mais antigos e menos maleáveis. Podemos usar estas partes para fazer crescer novos Salgueiros porque já que enraízam fácilmente podemos criar zonas mais protegidas poque estes aguentam condições climatéricas complicadas como zonas ventosas. Desta forma estamos a ajudar a criar habitats para os animais e a ajudar espécies autóctones a proliferar no nosso ecosistema.
Ao ser aparada junto ao tronco todos os anos podemos ter uma produção anual de vime para criar cestos, cadeiras e também pode ser usado para atar plantas como as vinhas.
As fibras resultantes dos ramos podem ser fervidas numa solução alcalina como cal ou soda cáustica durante duas horas. Sendo depois marteladas e processadas resultam num óptimo papel de cor avermelhada.