Aqui estamos nós, oficialmente do outro lado do oceano e preparados para conhecer o que este lado de cá nos tem para oferecer. Temos andado bastante ocupados mas queremos muito manter esta ligação que temos criado com vocês todos ao longo destes anos que passaram e que nos faz crescer tanto.
Pois bem, chegamos no dia 9 de Maio aos Estados Unidos, sem muita tralha na mochila mas com uma vontade imensa de aprender, ver, ouvir e partilhar mais. Estamos em Philadelphia no momento mas a ideia não é ficarmos pela urbe mas sim irmos ao mais verde que este país tem para oferecer, em breve partiremos para o rural e depois para o florestal.
No entanto, enquanto aqui estamos temos tido oportunidades únicas e esta é uma delas que gostava muito de vos passar nem que seja só umas quantas ideias que ficaram, a ver se podem tornar-se sementes em solo fértil para alguns de vocês.
No dia 21 de Maio fomos a uma apresentação do botânico Peter del Tredici na American Philosophical Society, a palestra vinha baptizada de Urban Nature: Human Nature. Apesar da nossa nartureza humana ser mais rural que urbana sei que as plantas que povoam os espaços urbanos trazem consigo a mesma determinação e vontade que no meio rural, se não mais acentuadas!
Peter percorre o país a estudar e analisar as plantas espontêneas nos meios urbanos, e admira-as tanto pela sua tenacidade como a sua vontade tão forte quase inexplicável de crescer onde os humanos existem em grande densidade.
Começou por honrar a American Philosophical Society ao mencionar pequenas histórias que ligam os seus membros fundadores à sua grande paixão que é a botânica. Contou-nos como Benjamin Franklin introduziu o Salgueiro - Salix viminalis neste país quando resgatou um pequeno cesto que por estar na água do oceano atlântico começou a depontar rebentos que este achou boa ideia plantar na sua casa e com certeza viraram bonitos salgueiros. John Bartram - botânico e fundador do primeiro jardim botânico nos EUA - também foi mencionado pelo facto da sua curiosidade pela botânica ter despoletado por uma interessante Margarida - Leucanthemum vulgare que o chamou a observar bem mais de perto a forma como esta se mostra ao mundo.
Peter continuou a sua apresentação, baseada no estudo intenso de vários anos de observação que foi fazendo em zonas urbanas e zonas urbanizadas que agora estão em abandono como no caso de Detroit, onde passa temporadas. Introduziu-nos com a sua visão sobre plantas nativas e invasoras. Na verdade, as plantas espontâneas são tão cosmopolitas como o ser humano por isso são mais como não nativas que foram incorporadas no novo habitat.
O solo urbano e as suas condições climatéricas foram alvos de bastante interesse nos seus estudos pois com a urbanização dos espaços, sendo pavimentações, desflorestações ou fragmentação de espaços naturais, o habitat nativo acaba por ser considerávelmente manipulado e por isso as plantas nativas não vão por certo rever as suas necessidades neste tipo de solo. Com a construção de infra-estruturas citadinas o ph do solo muda consideravelmente, não só porque muitas vezes novo solo e minerais são transportados para novas localizações mas porque com a água da chuva - que se tem tornado mais ácida - o betão acaba por dissolver e tornar os solos mais alcalinos ou básicos. Por isso temos tendência a ver plantas que gostam de zonas ruderais - do latim rudus que quer dizer escombros - neste caso detritos ou ruinas de construção que normalmente são constituidos por barro, minerais e betão.
A temperatura tem também tendência a aumentar na cidade pela quantidade de material que absorve calor e também pela falta de sombras, espaços verdes, plantas e árvores que retêm humidade no solo e a circulam no sistema. Por isso nas cidades temos tendência a sentir um aumento de 2 ou 3 graus comparando com as zonas rurais que as rodeiam.
Falou-nos de plantas como a chicória - Chicorium intybus para demonstrar o perfil de uma planta urbana que gosta de solo seco, exposição solar qb e solo alcalino. E mostrou como quanto mais perto das estradas estamos mais comum é encontrarmos estes seres. Nominou estes solos que nós humanos criamos como a terra pós-industrial e daí os escombros da palavra ruderal caberem que nem uma luva.
Saímos do auditório cheios de vontades e grandes pontos de exclamação. Gosto de partilhar com vocês alguma da informação para poderem também pensarem neste novo habitat que criamos de uma nova forma e com características tão diferentes do que em tempos foi.