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Rita Roquette

Sete Sóis e Sete Luas


Cada vez mais as palavras vagueiam pela nossa identidade. O Nat está no processo criativo de escrever um livro, que o tem acompanhado já por algum tempo. E eu estou aqui, junto com as palavras que serão como um barco a remos para chegar mais longe, a um entendimento qualquer!

Não posso deixar de dizer o quanto as linguagens são importantes no meu dia-a-dia, a forma de expressão como forma de conexão é bastante acentuada quando estamos fora, num local que a língua não é a nossa língua materna. Não que sinta dificuldades de entendimento de palavras mas sinto a dificuldade de entender o sentimento carregado às costas de algumas palavras, como se a origem tão desconhecida pela minha latina quisesse conhecer mais profundamente a germânica que agora abraço. Gosto especialmente quando as duas se encontram mesmo do centro da sua raíz e tudo parece estremer como dizendo " Ei, afinal somos feitos do mesmo!"

Por cá a língua que me é nativa aconchega-me e por isso partilho um pequeno excerto, de alguém que não me envolve em suas obras literárias em profundo pela falta de dança pontuada, mas que sem dúvida me apanha com todos os sinais de admiração!

“Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras, e, assim, Blimunda, que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas, e bem batizada estava, que o batismo foi de padre, não alcunha de qualquer um. Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados, enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde estás, Sol aonde vais.”

José Saramago em Memorial do Convento

Esta dualidade/complementaridade entre Sol e Lua é demonstrada desde tempos antigos, mesmo antes do antigo existir. É o feminino e o masculino, o yin e o yang, o inverno e o verão, água e o fogo... Todos os passos que estes astros percorrem são afectados de forma diferente consoante os seus companheiros de viagem. Tal como nós, que demonstramos diferentes facetas de acordo com quem estamos e onde estamos. As energias conhecem-se e fundem-se, mesmo que por um curto espaço de tempo, e de certa forma ditam o ambiente ao seu redor. Quase como um concerto em que algumas músicas trazem calma e outras que nos induzem num estado de euforia, que maior parte das vezes acaba por ser generalizada pela população vizinha.

Desta forma simplificada deixo-vos um pouquinho sobre os ritmos lunares e terrestres e a forma como estes afectam o crescimento das plantas e consecutivamente nós humanos.

Estes estudos já foram elaborados e comprovados pela agricultura biodinâmica que, através do método científico, consegue comprovar diferentes focos de crescimento nas plantas através da correlação com as fases da lua e o posicionamento dos astros.

A Lua tem um efeito imenso sobre o Elemento Água por isso conseguimos ver as marés altas e baixas conforme a força gravitacional que a lua exude. Nós humanos temos um conteúdo de água relativo que varia entre os 50% e 65 % e as plantas apresentam valores relativos entre os 70% e os 90%, estes números são relativos porque dependem da humidade do ambiente em questão. Estes valores mostram que como massas de água que somos, nós e as plantas, devemos também sofrer alterações tal como os oceanos do nosso planeta. Nesta pequenina intro vamos comparar as fases com o ciclo vegetativo das plantas para ajudar na visualização:

LUA NEGRA

- Semente -

Estado embrionário, vida em estado latente.

Nesta fase a seiva desce e concentra-se na raíz da planta.

sendo por isso uma boa altura para enraízamento,

para podar plantas e para adubar já que a absorção será mais eficaz.

É tempo de interiorizar, "podar" o que não nos é necessário

e adubar para um novo ciclo.

LUA CRESCENTE

- Rebento -

Aumento da influência da Lua sobre a Terra.

A seiva começa o seu percurso ascendente em direcção aos ramos, caules.

Este movimento mostra-nos a caminhada atempada até à realização,

este percurso vai nos ajudar a perceber os nossos limites

e a reavaliar do nosso propósito.

QUARTO CRESCENTE

- Caules / Ramos -

Com mais dinâmica no seu fluxo a seiva concentra-se agora nos caules e folhas.

A luz do Sol, reflectida pela Lua começa a aumentar a sua intensidade,

ao mesmo tempo as folhas começam a captar mais luz e a planta mostra mais vivacidade.

Existe uma dispersão pelas ramificações e um sentido de independência,

já não necessito tanto da energia da raíz-mãe.

É tempo de fazer alongamentos de alma, ganhar confiança e independência,

é tempo de sentir a nossa energia individual e a vontade de partilhar com o que nos rodeia.

LUA GEBA

- Botão -

Agora a lua já está iluminada entre 75% e 100%. É uma quase lua cheia, mas ainda não a é.

Tal como um botão prestes a florir, tem tudo para dar certo mas ainda não se expôs ao mundo. O botão ensina-nos a ter paciência para superarmos a nossa meta e conseguirmos apreciar em pleno a floração. Quando em dúvida, nunca nos devemos esquecer do

potêncial que fomos acumulando até ao momento, o nosso botão pessoal com

uma flor bem escondida por entre as sépalas que nos cobrem, mas ela está lá!

LUA CHEIA

- Floração -

É o culminar do ciclo, a Lua encontra-se no ponto mais longe do Sol,

no entanto carrega toda a sua luminosidade. Em forma de seiva chegamos aos extremos da planta, às copas, às folhas e flores, o caminho foi-nos iluminado,

conseguimos ver o que antes nos era invisível.

Tal como as flores que são a expressão externa mais forte e arrojada das plantas, nós também estamos no momento em que estamos no apogeu de energia, com o nosso Todo à flor da pele.

Estamos mais abertos e receptivos a conhecer os "cantos" da nossa casa e a aceitar as suas

formas de manifestação. É uma boa altura para o transplante de plantas já que depois deste ponto a energia começa a descer em direcção à raíz e a ajuda no enraízamento.

LUA DISSEMINANTE

- Frutificação -

A seiva começa o seu movimento descendente tal como a luz da Lua.

Tal como a Lua Geba esta fase requer um pouco de esforço e aceitação. Depois da euforia e da agitação para a preparação do culminar agora estamos a ir de volta para casa e pela primeira vez temos tempo para olhar o que nos rodeia, a fazer os frutos amadurecerem, lentamente.

O fruto é a integração da lição aprendida, a recompensa e partilha de todo o processo,

mas ainda está verde.

QUARTO MINGUANTE

- Colheita-

A seiva está a ir agora em direcção às raízes e mais uma vez atingimos o balanço

entre a luz e a escuridão, se bem que cada noite que passa vemos mais sombra.

A influência da Lua sobre a Terra está a diminuir

Tal como um fruto que sabe que está quase em fim de ciclo nós também sentimos que algo está a acontecer, a mudar. Transportamos connosco o fruto do trabalho de um ciclo onde foi

depositada muita energia mas ao mesmo tempo temos connosco a possibilidade

de um novo começo em forma de semente. O passado e o futuro dão nos as suas chances no mesmo momento, há que aprender com eles. É também uma boa época para desbastar plantas que desejamos que o crescimento seja lento,

um cortar as partes que queremos mudar.

LUA BALSÂMICA

- Compostagem -

A última fase da Lua, o compostar daquilo que foi produzido neste ciclo.

Estamos perante a cerimónia de encerramento, onde existe uma decomposição do que

foi gerado em matéria fértil para ser as fundações do novo ciclo.

O que é um jardim sem um bom composto?

Estamos como se no Inverno do nosso ciclo, no pousio do nosso campo. Contemplamos, apreciamos o sossego e as subtilezas que o Todo do trabalho gerado pode fazer quando deixado a sós. E sem darmos conta nascerão sementes neste composto...

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