Sou Rosa.
Nascida de uma força espinhosa,
de cara atenta ao Sol de cada um.
Vivi uns tempos abotoados, a entrar e sair de casas mas sem me abrir, estava cosida às paredes verdes que me continham.
Comecei a sentir a coceira dos estames a quererem crescer, ao ganharam espaço dentro de mim fui-me apercebendo que me pintava por dentro.
Tinha um colo imenso, umas vestes de suavidade que as pernas peludas do meu caule nunca anunciaram e que de sépalas já nada tinham. Como poderia guardar tudo no centro?
Desabotoei-me.
Sai de casa, ou da casca dizem alguns.
Abri-me em saia rodada, rosa quase púrpura, arrojada, arrosada! Olhavam para mim com o espanto de quem vê morrer um astro no escuro do céu.
Sim sou eu, eu mesma! A peluda de picos irritadiços, que te fazem gritar nomes e chupar o sangue dos dedos picados. Agora consegues ver-me com outros olhos. Eu também, e gosto do que vejo, beleza real, a que dança ao som do vento e conversa com os curiosos sem timidez.
As minhas ancas crescem a uma velocidade tremenda, de tão largas fizeram com que a saia se soltasse. Cinco retalhos, um atrás do outro, caíram no chão... E não é que a nudez da idade, estes cabelos grisalhos como fruto suculento não me fica nada mal.
Os sóis a quem acenei acabaram por ser os mesmos que amadurecem as rugas e todos, todos eles se multiplicarão em semente com vida protegida por esta pele velha mas tão, tão cheia de vida.
Sou Rosa Rugosa.
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