Liguei a lanterna.
Cortei com a luz o molhado.
Não era chuva mas a água ocupava as esferas minúsculas da atmosfera. Duas vezes mais água que ar. Vapor do vale, evaporado vale.
Parece que a Eva, a cheia de vida regressou. Chegou a gosto e ocupa o ar de feminina bruma. A noite é sua, sentimo-lo na expiração abraçada pela boca de quem profere o existir. Acordo de pés frios, a tocar o chão de Adão. Dois opostos na criação de um torrão, do abençoado pedaço de terra vespertina.
Afinal porque se taparam com a folha da Figueira?
Hoje é o dia Internacional dos Povos Indígenas, os naturais sábios, as Evas e Adãos deste jardim, os jardineiros no seu estado original. Mesmo que obrigados a vestir folhas de Figueira, o pudor da criação não foi instaurado. Não é possível proibir os ciclos das histórias vivas que contam, sons e cheiros que vivem ainda no paraíso que lhes foi dado porque o merecem.
O roubo, a extorsão e violência aplicado contra estes nossos guardiões é o maior pecado da humanidade.
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