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  • Rita

Cultivar o Estar


Nunca pensei usar esta forma de escrita partilhada de uma maneira tão natural, nunca fui muito adepta das redes sociais, talvez porque nunca entendi o limiar do pessoal-social que se confunde nesses meios. Mas algo tem mudado e agora sinto que quem aqui vem conhece a forma como vivemos ou pelo menos entende o sentimento acolhedor que sentimos quando somos natureza em pleno, por isso existe um sentimento de confiança e de vontade de partilhar crescente. Agradecemos todas as vossas palavras calorosas que nos têm chegado, é quase como que se entrassem cá em casa e partilhássemos uma caneca de água fumegante com cheiro a Camomila onde as histórias emergem naturalmente como o vapor de água.

Já passou um mês desde que voltamos da nossa viagem pelo Novo Mundo, e o voltar parece-nos agora, mais que nunca, muito diferente do chegar. Um dá a continuidade nas voltas que é, o processo que ainda está em movimento e o outro é um ponto estável, um marco da nossa chegada e para nós esse ainda está a ser tecido.

A nossa casa aqui no Minho é pequena e abriga-nos para podermos preparar comida e para dormir na maioria das noites, os dias são sempre mais passados com o céu como tecto e por isso casa para nós não é só o território onde dormimos, mas é também o rio, os bosques que atravessam o rio, as montanhas que atrapam as nuvens e as fazem descer devagarinho até nós. O sítio onde habitamos é o local onde nos sentimos em paz por saber-mos que o nosso respeito e dedicação é nos reflectido sempre de forma a fazer-nos crescer, mesmo que por vezes o processo seja moroso e até doloroso.

Não é fácil chegar depois de 3 meses a um pedaço de Terra que nos assistiu no nosso processo de crescimento ao longo dos anos. Muito mudou na nossa ausência e durante estas semanas que aqui estivemos conseguimos sentir a alma deste lugar a mostrar-nos uma nova cara, agora que ambos estamos diferentes precisamos de nos re-conhecer, de restabelecer um ponto de equílibrio.

O voltar é um processo de reconstrução, é um conhecer pelos pequenos toques de olhares que vão pousando demoradamente nesta e naquela planta, um espalhar de composto e elixires pelos habitantes deste lugar, é o encostar num carvalho magoado pela seca e pedir que aguente só até às chuvas que aí veêm e que com certeza dissolverá o que foi acumulado nesta espaço entre nós.

Estes lugares que habitamos, não são refúgios distantes do real mas sim portais para uma ligação mais profunda, onde se cultiva o sentido de pertença no mundo e do relembrar do nosso propósito. Tal como nas relações pessoais que vamos cultivando na nossa vida, os espaços que habitamos por longo ou curto espaço de tempo estão dispostos a nos ajudarem a crescer, dão-nos espaço para sermos e reflectem a nossa imagem. Sem pensarmos muito damos por adquirido o que estes espaços são para nós.

Sinto que podemos aprender muito com as culturas antigas como é o exemplo da construção tradicional japonesa onde o pilar central da casa, chamado de daikoku bashira, é um dos elementos principais da casa. A árvore que é usada para este pilar era escolhida pela seu crescimento e era honrada ainda em vida através de um ritual de pedido de permissão e de compromisso. Este pilar era o centro da construção já que grande parte do peso do telhado, paredes e chão é sustentado por ele, ao longo dos anos este pilar é tratado com muito amor e dedicação através de um olear lento e calmo com a intenção de prolongar a sua vida e por consequência a vida da família que nela habita. Preces são trançadas neste processo como se o pilar se tratasse de um altar e o sentido de agradecimento pelo abrigo que nos acolhe intensifica-se a cada dia que passa.

É com este óleo nas mãos que vejo as flores femininas do lúpulo abanarem com o vento, a dançarem como sinos porque sabem que o maracujá vizinho está a trabalhar na mesmo intenção que elas, no restabelecer da paz a quem dedica o tempo a fazer do estar casa. Pacientemente continuam a enviar a sua forma de curar suave para que as partículas agitadas que somos assentem e virem sedimento. Porque o poder medicinal destas plantas não é só administrado pela boca mas está impregnado em toda a sua forma, cor, cheiro e acima de tudo presença.

Desculpem a nossa ausência, mas é assim devagarinho que vamos chegando e muito em breve abriremos espaço para sermos com vocês. Gratos estamos por o podermos fazer já no próximo dia 2 de Outubro no Monte dos Carvalhos em Alpedrinha num dia especial dedicado às Ervas que Curam. Para saberem mais podem ir a:

Até breve!

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