Encontrei há uns meses um papel na garagem da minha mãe, era o meu primeiro herbário que dei à luz quando tinha 6 anos. Lembro-me como se fosse ontem, da tarde em que colhi essas folhas e por entre livros pesados as deixei a secar. Quando escrevi o nome de cada planta com a ajuda da minha mãe, esses nomes trouxeram uma realidade diferente a cada um desses seres, um chamava-se Gerânio, outro Trevo e eles com certeza tinham irmãos e primos com outros nomes e com caras diferentes das deles e vozes distintas! Essa revelação que até há pouco estava meia ensombreada em mim fez-me sentir parte de um mundo em expansão, que nunca mais acabava e que tinha tanto para me ensinar e me fazer sentir parte de uma grande família. Mas essa foi só a minha forma de sentir, as palavras foram o meu meio de ligação nesse momento, enquanto para outros o simples facto de uma folha se parecer com uma mão poderia levar-nos pelo mesmo caminho: "Ah afinal elas têm mãos como nós, será que também têm olhos?".
Tudo está vivo quando deixamos um espaço em aberto para interagir, para sermos curiosos sobre a personalidade de toda a matéria, como os seus humores mudam com os dias que passam, como nos contam histórias pelas formas como se mostram, pelo som que fazem, pelo brilho ou calor que emitem... Se preferirmos ficar pelo mundo inanimado existe um sem número de ideias, sorrisos e maravilhamentos que não vão ser experenciados e realmente a nossa vida acaba por se despir de um grande pedaço de o que é conhecer o que nos rodeia, de sermos eternas crianças que se iluminam com os pequenos sinais de beleza. Na essência perdemos a noção do que é pertencer, a um sítio, a uma família ou galáxia e quando nos excluímos não temos conhecimento do que é ser humano.
Muitas vezes nas caminhadas que partilho com pessoas ouço a pergunta:
"O que é esta planta? E para que é que serve? "
Se pensarmos nas plantas como nossas amigas ou até avós, já que vêm do mesmo fluxo de células que começou a vida neste planeta há 4 biliões de anos atrás, conseguimos ver que realmente o grau de proximidade é muito maior do que a mera observação de consumidor. A pergunta tem que mudar, temos que dar ao que nos rodeia o espirito de existência, deixar espaço para se mostrarem:
"Quem és tu planta? O que me tens a ensinar? O que te posso dar em troca?"
Cada um de nós tem um forma única e especial de apreender o mundo e por isso temos que nos deixar guiar pelas formas que nos estimulam e vão de acordo com a nossa forma de sentir. Como seres multi-sensoriais temos a capacidade de absorver informação numa multiplicidade de formas e feitios, essas sensações são o que nos dão um lugar neste Universo que habitamos.
Ninguém fica imune ao contar uma história a uma criança, quando na simples descrição de uma personagem chamada Montanha, temos momentos em que vamos muito mais além do que acreditamos, isto porque sabemos que a imaginação vai bem mais de encontro ao real que a criança vive, e ali estamos nós a entender o que é ser montanha que afinal até tem vida e personalidade. É tão fácil como perguntar a pergunta certa, onde damos espaço para a manifestação do que quer fazer parte.
"Mas a Montanha tem coração?" pergunta a criança "Tem mais do que isso, tem Espírito!" responde a Montanha que existe em nós.
Estrelas que são História
Quando nos falam sobre os planetas na escola ninguém faz questão de falar de cada um em particular, como se fossem uma poeira que gira no cosmos em vez de serem nossos vizinhos, amigos ou mesmo família. Mas sem essa tradução a que alguns chamam de fábulas e outros mitologia é nos muito difícil percebermos estes objectos que andam lá por cima e que nos acompanham nesta nossa viagem pela galáxia.
Sabemos de cor os seus nomes e até o seu posicionamento em relação ao Sol mas na verdade isso só demonstra uma realção quantitativa que nada nos diz sobre o que significam, quase como se descrevessemos os nossos amigos pelo nome e morada, que não reflecte de todo o que significam para nós, nem o tempo que partilhamos com eles nas nossas vidas.
Muitos vêem a Astrologia como reservada para excêntricos, estudo a que só pessoas mais místicas se conseguem relacionar e astrologia não é o horóscopo diário ou semanal que nos é dado em 15 palavras nas últimas páginas do jornal... Na verdade, quanto mais tempo se dedica à Terra mais nos apercebemos do facto de não estarmos sozinhos nesta nossa jornada. Gosto de imaginar o tempo passado nos milhares de anos da nossa evolução em que não existia luz artificial nem vídeos, para eles o céu era um filme que se prolongava ao longo dos séculos e que lhes guiava o caminho.
Se perguntarmos a agricultores ou pessoas que plantam ou colhem o seu alimento se pensam que existe ligação entre os Astros e a Terra a verdade é que a grande maioria vai referir que certamente que sim, porque já viram os efeitos do Sol , das Luas Cheias e das Luas Escuras nas suas árvores, nas plantas, animais e até mulheres vejam só!
Estes que trabalham em colaboração com a Terra são os que têm os pés mais assentes nela e não são visto como excêntricos com a cabeça no cosmos, mas eles sentem-no e sabem bem que se trabalharem com a ajuda de certos movimentos celestes conseguem um melhor resultado neste trabalho que é feito sempre em conjunto.
Formas que falam por si
A forma como expressamos os planetas hoje em dia vem da evolução da representação destes Astros desde tempos antigos, na verdade são formas universais que são encontradas em toda a Natureza, é só ter tempo para observar. Estes 4 símbolos são a base dos glifos ou desenhos que representam os planetas do nosso sistema solar e todos nós veremos coisas diferentes nestas formas, tudo depende da nossa forma de sentir o símbolo, das nossas experiências, memórias e intuição.
Este símbolo é visto como zero, como a letra O, como sol, como uma célula, o ovo, um anel ou roda.
O circulo e a energia pura e o espírito iniciador de onde tudo começa, de onde todos os números nascem. É o começo e o fim, o tudo e o nada ao mesmo tempo.
A representação do sol é desde tempos antigos uma forma circular e é nessa forma que as pessoas são dispostas nas ceremónias sagradas das mais antigas tribos, ninguém é esquecido, todos têm voz e são tratados como igual.
O semi-círculo é a metade do círculo e pode ser visto como simplesmente a metade, mas também como uma taça, uma ponte, um sorriso, um arco ou mesmo a Lua. É um símbolo receptivo que está aberto à comunicação e por isso é muitas vezes associado com o crânio ou mais em especial o cérebro ou a mente. Na astrologia este simbolo significa a ponte entre o corpo e a mente, ou a taça onde é mantido o conhecimento e por estar aberto é partilhado.
Quando marcamos um tesouro no mapa, marcamos com um X , a intersecção de 2 linhas que se encontram num ponto só. Este símbolo pode ter o significado de cruz, de mais, de xis, etc... Nas culturais mais antigas este símbolo estava ligado aos 4 Elementos, às 4 Estações do ano, às 4 fases da vida e aos 4 pontos cardiais. O ponto em comum é onde todos os elementos se relacionam e se manifestam em realidade. Na astrologia este símbolo é visto como tudo o que é materializado, e se converge em matéria terrena, o físico.
Este símbolo é um dos mais directos na nossa comunicação diária, a seta, o indicar de alguma direcção ou a forma de flecha que nos faz alcançar alguma coisa que está longe de nós. É um simbolo que implica acção, movimento e quando nos encontramos com ele sabemos que nos fará alcançar alguma coisa.
Planetas
O círculo, semi-círculo, cruz e seta são as bases para qualquer dos símbolos que usamos para representar os astros. Cada um é uma composição que nos leva a associar e a tentar entender as personagens através de mensagens contidas em cada um, aqui falamos de cada um, na nossa forma de sentir, mas o espaço fica em aberto para qualquer possível interpretação...
Sol
Um ponto dentro de um círculo, o indíviduo no centro da paisagem divina, nós no todo e o Todo em nós. Nas medicinas ancestrais o sol está ligado à energia vital, ao Prana ou Qi, é o Fogo que rege o coração e o sangue, é o Verão que é quente e seco, o sabor pungente e a energia máxima de Yang ou Pitta. É também a nossa vida de adultos, dos 21 aos 46 anos, e o nosso lado mais masculino que é activo, apaixonado e muitas vezes enraivecido.
Na astrologia o Sol é o astro que rege o signo Leão e influência Carneiro, por isso está directamente ligado ao nosso poder individual, ao Ego, como expressamos a força vital em nós. O zodíaco é na verdade um calendário solar que tem a duração de 12 meses, sendo cada mês ou 30º o posicionamento do sol em cada uma das constelações do zodíaco.
Quando falamos do nosso signo nos dias de hoje estamos a referir-nos à posição onde o Sol se encontrava no momento em que nascemos, porque esta nossa cultura ocidental moderna é regida pelo Sol e pela energia masculina do querer mais, melhor e maior. Alguns de nós nos identificarmos com o nosso signo solar mas outros não e na maior parte das vezes esta influência mostra-nos o que estamos a aprender a ser mas ainda não o somos, no entanto quando o aceitamos ser é quando estamos mais em paz com o nosso propósito. Na verdade todos os outros astros e o seu posicionamento no nosso mapa astral são importantes no nosso ser, de outra forma o mapa dos céus que nos mostrou caminho até à Terra não faria sentido.
Nas diferentes culturas que nos transportaram até ao hoje vários Deuses eram associados ao Sol e muitos deles são reconhecidos por nós como Inti no Império Inca, Ra no Egipto, Agni na Índia, Helios na Grécia, Apollo no Império Romano, Shamash na Mesopotâmia, Wi na Tradição Lakota, Lugus para os Celtibéricos, entre muitos outros espalhados por todas as culturas. Esta vivência com Deuses que reflectiam as qualidades celestes em forma humanizada era uma forma de entendimento profundo da matéria de que estes astros eram feitos porque era sentido pessoalmente e em constraste com as experiências de cada um.
Os ritmos solares são os mais importantes para as plantas pois está ligado à acção essêncial da vida das plantas, à fotossíntese e às operações de abertura e fechamento dos estômatos que estão ligados às trocas gasosas e transpiração das plantas, sem o Sol as plantas não conseguiriam alimentar-se a si mesmas nem produzir o oxigénio que iria melhorar as condições de habitabilidade do nosso planeta. Quando o Sol está em actividade crescente - Primavera e Verão - está a ajudar as plantas a frutificar e a produzir semente, quando o arco que o Sol descreve no céu se torna mais baixo nos meses de Outono e Inverno as plantas passam a ser menos estimuladas e a Terra tem a oportunidade de expirar. Para a Agricultura Biodinâmica o ritmo solar rege as aplicações das preparações das plantas que vão melhorar as capacidades inerentes das plantas e solo.
Vamos aos pouquinhos falando sobre os outros mas o importante neste trabalho mais ligado às alturas é sentir e meditar sobre os símbolos e os tempos e entender as influências que a sua presença tem nas nossas vidas e nas vidas dos que nos rodeiam. Se observarmos a Natureza e o que ocorre nas diferentes alturas do ano conseguimos perceber melhor todos as forças elementares em acção . O que está lá fora como mostra o símbolo solar é o que se passa dentro de nós, somo sespelhos um do outro, agora é o tempo de Virgem e as colheitas aguardam...