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Monte dos Carvalhos


Há uns anos, durante a Convergência de Permacultura no Fundão, tínhamos cruzado caminho com algumas das pessoas que habitavam o Monte dos Carvalhos e claro que isso suscitou uma enorme vontade de os conhecer melhor a eles e ao sítio onde fazem da vida uma celebração.

Foi ainda meios a chegar de viajens e de sorrisos bem abertos que recebemos a proposta para nos juntarmos a eles num dos Dias Abertos que proporcionam à comunidade envolvente, este bem especial teria como foco principal as Ervas que Curam.

Chegámos no dia anterior a meio da tarde e os cheiros doces da secura eram sentidos bem na calma do Monte dos Carvalhos. A Márcia e o Samuel - o recém chegado membro da família - receberam-nos com aquele sentido de estarmos em casa e caminhamos um pouco juntos, ao que conseguimos sentir o tanto que é o local onde vivem. Da cozinha comum vinham os cheiros deliciosos dos cozinhados da Emma que por entre verduras fresquinhas e panelas fumengantes não deixava de espalhar a sua alegria, o jantar seria para breve e ajuda era conveniente... O jantar foi partilhado com muito amor, a Bárbara e o Eric juntaram-se a nós, e mais uma vez o estar rodeado de pessoas que nos inspiram comprovou-nos o que é realmente a nutrição!

Ficámos a dormir no Sparrows Nest uma das construções que acabaram há pouco tempo que é mesmo como um ninho acolhedor onde o cansaço e gratidão nos levaram a bons sonhos. De manhã acordamos bem recuperados e cheios de vontade de começar o dia.

Preparações para o Dia Aberto

Aos poucos o Sol foi se levantando para nos reconhecer e entre preces comuns sentimos que o dia traria o melhor de cada um de nós para a partilha que aí viria. As pessoas começaram a chegar, os vizinhos que ouviram as vontades de ligação dentro deles vinham com sorrisos na cara e o Monte dos Carvalhos recebia-os como a casa da Avó, fumegante e calorosa, que nos aconchega pela simplicidade que é.

Recepção dos Vizinhos com plantas, canecas e sorrisos

Depois de um círculo de boas-vindas onde cada um se apresentou pelo seu nome, o local onde vivem - para que os vizinhos os pudessem localizar melhor no seu mapa das Beiras - e por fim a razão por que lá estavamos naquele dia. Ficamos sempre muito felizes por saber que estamos rodeados de pessoas que dão o valor devido à flora mas o que nos tocou mais neste círculo foi mais além do que isso, foi o sentido comunitário que todas estas pessoas transportam em si e a vontade de ensinar e aprender uns com os outros.

Começamos a caminhar, e os sentidos como sempre são chamados ao trabalho como vários instrumentos de uma orquestra que se juntam para harmonizar o que está em seu redor. O que mais gosto neste caminhar conjunto são as histórias que nos chegam de um lugar comum e que sem avisar nos fazem realmente sentir em casa. Nesta caminhada os contadores de histórias tiveram varias caras, umas mais verdes, outras mais humanas, mas todas elas partilharam a inspiração de ser pelo que se viveu e se mostra nas formas que se é, as mesmas formas que as nossas mãos, olhos, ouvidos, línguas e narizes sabem experenciar a 100%.

Numa hora e meia, enquanto escutávamos as plantas e as vivências de cada um, falou-se de Chenopodium album- Espinafre Silvestre, Trapaeolum majus - Capuchinhas, Malva verticilata - Malva , Rubus fruticosus - Silvas e Olea europaea- Oliveira, não são precisas muita plantas para se conhecer a verdadeira força curativa que elas transportam para conduzir a Terra e os seres que nela habitam a uma evolução pacífica mas constante.

O almoço estava pronto e os apetites despertos, por isso voltamos a subir a colina para sermos festejados com uma mesa que vibrava em cor e energia dentro da construção solarenga que usam como a grande sala para estar em unidade.

Depois de um almoço delicioso fomos presenteados com uma visita ao que é o já grande trabalho feito no Monte dos Carvalhos. A Bárbara, que é que tem a construção como dedicação principal, levou-nos a conhecer os vários exemplos de construções naturais que eles têm experimentado fazer por lá. Desde que lá chegou há 10 anos atrás tem vindo a construir, com a ajuda por todos os que lá estão e passam, os abrigos necessários a uma boa vivência em comunidade, desde fardos de palha, a tabique, cob e colmo... As formas de expressão através dos elementos é bem sentida por aqueles lados, e os locais onde se erguem são escolhidos como pontos harmoniosos, que não só dão abrigo mas fornecem uma paz interior que é sentida a partir do primeiro momento.

Bárbara a falar-nos sobre a casa dos banhos, e as diferentes fases do projecto

A Emma mostrou-nos também, durante este prercurso de reconhecimento, a forma como eles lavam a roupa e a ferramenta ou máquina de lavar manual: um simples pau com uma aplicação em ferro que faz a água circular e agita a água e o sabão num balde. "Aqui o tempo é para ser sentido e apreciado!" diz-nos " Porque gostamos que quando as pessoas cá ficam aprendam a prezar o envolvimento com a vida que se sente quando se toma conta de cada etapa do nosso dia, desde a água quente para o banho como à roupa a ser lavada manualmente". E é assim nesta vida quase monástica, que nós nos revemos bem, que os dias são passados e vistos como uma oferta em cada momento em que sentimos que somos capazes de o fazer por nós mesmos em comunhão com os outros que vivem connosco, num partilhar de tarefas contínuo que melhora o nosso ser.

Por fim voltamos ao centro comum e ouvimos a Emma a falar da forma como as plantas são colhidas e perservadas no Monte dos Carvalhos. Ao contrário do que estamos habituados a ver em grande parte das ervanárias e supermercados, as plantas quando bem secas e protegidas mantêm uma côr viva e não amarelecida e o seu aroma não é a erva seca mas sim complexo. Mais do que precisarmos de certificações disto ou daquilo o que necessitamos mesmo é de confiar nos nossos sentidos e sermos capazes de saber que o que temos à nossa frente é um produto de qualidade. Ao fazermos nós mesmos esse trabalho/prazer de germinar,crescer e secar plantas medicinas, aromáticas ou comestíveis sabemos o que envolveu as plantas durante a sua vida e a pós-vida energética que estas oferecem a quem cuida delas.

Emma a espalhar a magia das Ervas que Curam

No resto da tarde que se seguiu falamos de como podemos gerar um Kit de Primeiros Socorros com plantas medicinais preparadas das mais diferentes formas: tinturas, bálsamos, óleos macerados, óleos nasya, óleos essenciais, essências florais, resinas, incensos... Todas estas fórmulas preparadas com a intenção de curar e promover a harmonia conseguem de forma bem directa responder às nossas necessidades. O que acontece no caso de Primeiros Socorros é que as plantas envolvidas são de rápida acção como o Milefólio - Achillea millefolium que actua como um hemostático quando aplicado externamente, como no caso de sangramento abundandante devido a um corte mas quando ingerido internamente trabalha como um diaforético através da estimulação do fluxo sanguíneo pois consegue aumentar a temperatura corporal e fazer o corpo suar que é uma das terapias mais importantes quando o nosso corpo reage a toxicidade ou agressões bacterianas/virais.

No final do dia cada um levou para casa um saquinho de plantas medicinais do Monte dos Carvalhos e fez-se um circulo de encerramento para que houvesse um espaço de agradecimento pelo dia passado juntos e por todo o entusiasmo que foi passado de uns para os outros. Nós voltamos para casa mais leves e com um sentido de pertença a esta Terra e Gente muito grande, sabendo que o caminho que decidimos trilhar em conjunto é a razão pela qual sentimos o tambor coração a ritmar cada vez mais sorrisos e danças.

Agradecemos a Todos pelas fotografias partilhadas para que pudéssemos escrever este texto de uma forma mais colorida e pelas vidas que tentam levar sempre da forma mais inspirada.

Até Breve Monte dos Carvalhos, havemos de voltar com mais tempo, se bem que o tempo não existe quando aí estamos!

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