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Rita Roquette

As Maravilhas da Calendula arvensis


Hoje de manhã o Sol mostrou-se glorioso, não há convite melhor para ir dar uma caminhada e para ouvir o que este renascer da Terra nos quer contar. Seguindo a margem do rio, pelos trilhos que muitos usam, conseguimos já notar o despertar de algumas plantas que marcam a madrugada da Primavera. O Esfondilio - Heracleum sphodylium com as suas grandes e suaves folhas já se faz notar mas como insectos curiosos as flores chamam-nos sempre à atenção, não fosse essa a razão pela qual as plantas criaram essa invenção para propagarem a sua continuidade!

Perto de um muro, num recanto soalheiro de solo arenoso e pobre, lá estavam elas sorridentes: as calendulas silvestres a serem o reflexo do Sol, mais tarde vão fechar quando ele se despedir e no dia seguinte abrirão com ele de novo. Já a tínhamos mencionado na newsletter deste mês, mas como nunca parece ser demais, decidimos fazer uma dedicação especial à Calendula arvensis, não tão cultivada como a Calendula officinalis mas igualmente especial, talvez para nós ainda mais pela sua tenacidade como anual silvestre e por ser normalmente esquecida quando em comparação com a sua irmã de flores exuberantes.

O termo officinalis na denominação da espécie indica que era usada na officina, o armazém ou apotecário dos mosteiros onde normalmente as plantas medicinais eram guardadas e preparadas. De cada vez que nos deparamos com este termo sabemos que a espécie em questão era já usada e plantada como medicinal por monges de pelo menos do séc. XVIII quando Linnaeus se dedicou a nomear as espécies da actual botânica, mas provavelmente o seu uso viria de datas bastante anteriores a esta. Depois da Idade Média a conservação do conhecimento de plantas medicinais foi transferida para os mosteiros já que as pessoas que antigamente se dedicavam à recolha e preparação das mesmas corriam o risco de ser apontadas como adeptos de bruxaria e de serem queimados na fogueira, tal como qualquer outra actividade que de alguma forma dedicava um culto à Terra e incentivava a celebração da cultura pagã, a cultra campesina.

Evolução das folhas, até às sépalas, pétalas, flores e sementes

Não era usada nas officinas dos mosteiros de forma directa, mas a Calendula arvensis é no entanto uma das suspeitas de ser a origem da outra espécie officinalis. Usualmente quando vemos as espécies que cultivamos nos jardins e hortas esquecemo-nos que aquelas plantas são na verdade um aprimoramento de espécies espontâneas. Ao longo dos tempos houve quem seleccionasse e propagasse sementes e plantas que mostrassem determinadas características que queriamos melhorar, neste caso a flor da Calêndula, mas por exemplo no caso das alfaces, as sementes que foram guardadas foram as das plantas que mostravam maiores folhas. Ao longo de alguns anos de sistemática selecção acaba-se por chegar a mutações que nos são mais favoráveis, mas que nem sempre significam que são de qualidade superior, apenas nos dão mais em quantidade.

A pequena flor da Calendula arvensis, é uma lembrança de que nem tudo o que engradeçe nos enriquece. Nesta solarenga manhã, alinhada com o dia flor da Biodinâmica, os dedos que recolhiam as flores sabiam bem das poderosas qualidades que esta planta partilha com quem se aproxima, uma a uma as flores iam deixando a resina que suaviza as mãos de quem as colhe e as abelhas bem sabem que não há nada melhor que banhos de Calêndula.

No Prato, na Pele, No Sorriso e no Embalo

As folhas carnudas de cor verde pálido são comestíveis e nutricionalmente são muito semelhantes ao Dente-de-leão, são uma óptima adição em saladas ou sopas. As flores são comestíveis e alegram qualquer prato e as pétalas são usadas como um substituto do açafrão, bem mais suave mas confere uma pequena coloração quando adicionadas ao arroz ou simplesmente para decoração, como neste bolo que fizemos para os anos do nosso amigo Sérgio, não há Janeiro que não aqueça com a chama destas pétalas!

O seu sabor passa pelo doce, o salgado, um bocadinho pungente e finalmente amargo: que viagem! O sabor sempre foi uma forma de identificarmos as afinidades das plantas, neste caso o salgado mostra-nos a capacidade emoliente que acalma e relaxa os tecidos, o pungente confirma a energia quente que lhe confere a capacidade de estimular a circulação, o doce a capacidade demulcente e nutritiva e o amargo a capacidade de estimular o Fígado e a Vesícula Biliar tal como a possibilidade de se relacionar com o elemento Fogo na MTC que está ligado ao Coração e ao Intestino Delgado.

Tradicionalmente era uma das plantas mais usadas na confecção de bálsamos e cremes pela sua afinidade com a pele, é um ajudante inigualável na resolução de inflamações cutâneas, na nossa opinião é uma planta para se ter na bolsa de primeiros socorros pois com certeza ajudará em situações como cortes e queimaduras que mostram vermelhidão ou possível infecção. Funciona como um bacterioestático que faz com que as bactérias que possivelmente poderiam infectar um corte, arranhão ou queimadura acabem por ter uma quebra no seu desenvolvimento ajudando a pele a ter tempo para travar uma batalha de cada vez. Os preparados para a pele feitos com Calêndula são tão suaves que podem ser aplicados em bebés, crianças e animais.

Mas não é só exteriormente que podemos beneficiar do contacto com esta planta. Ao ingerirmos folhas ou flores de Calêndula estamos a aliviar possíveis inflamações nas "peles interiores" dos orgãos como úlceras na parede estomacal ou no intestino delgado, ao mesmo que nos ajuda a estimular a digestão com os seus constituíntes amargos, para este efeito podem ser preparados chás da flor seca ou a tintura diluída em água fria. Desta forma também se pode recorrer à sua ajuda como tónico, quando sentimos que as defesas do nosso sistema imunitário necessitam de ser erguidas, como quando acontece no caso de infecções recorrentes.

Como Essência floral a Calendula arvensis faz-nos sentir que somos uma das centenas de velas de um altar iluminado, ajuda-nos a abrir as nossas flores para recebermos a vivacidade do mundo mesmo quando às vezes sentidos que não estamos receptivos. Quando nos pesa a separação, a agressividade se sente até mesmo pelas palavras ou quando queremos ver o outro afastado de nós a Calêndula ensina-nos a reflectir a luz que foi reconhecida no outro e que por a apreciarmos na sua integridade se torna nossa também. Para ela não existe separação mas a compaixão e empatia de um embalo de mãe que gosta dos seus filhos todos por igual.

Quando colhemos plantas para usarmos medicinalmente é importante estarmos alinhados com a qualidade da planta que queremos transportar nos nossos preparados. Desta vez a imagem que nos guiava era a luz amarela a unir dois lados que numa agressão orgulhosa se chamam de opostos mas que na verdade querem estar juntos, neste espaço coberto de flores amarelas sentimos que éramos flor também, nada nos separava.

Óleo Macerado de Calêndula

Óleo vegetal que prefiram, neste caso azeite

Flores de Calêndula

Adicionar as flores colhidas e secas por 1 dia a um frasco. Cobrir com o óleo vegetal que escolherem e deixar numa janela solarenga por um ciclo lunar. Depois só temos que filtrar, expremer o óleo das flores e guardar num frasco de vidro escuro ou num local escuro se tivermos um frasco transparente.

Bálsamo de Calêndula

- 100 ml de óleo macerado de Calêndula

- 15 gramas de cera de abelha biológica

Antes de fazerem em grande quantidade experimentem fazer um pequeno bálsamo

para verem qual é a textura que mais gostam, se mais pastoso (menos cera de abelha) ou se mais duro (mais cera de abelha), façam a conversão da receita a dividir por 10 para ficar mais fácil.

Numa tigela em banho-maria adiciona-se o óleo macerado e as 15 gramas de cera ralada ou cortada em pedaços pequenos até esta derreter. Depois de derretido num líquido uniforme vertemos para frascos ou latas, esperamos até endurecer e fechamos as embalagens. Se guardarmos num local fresco estas durarão por 1 ou mais anos.

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