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Rita Roquette

Gemoterapia: a vida que transbrota


Broto de Avelaneira - Corylus avellana

Imaginem que estão numa carruagem escura, sentados num banco frio e húmido dum comboio meio que sem destino que segue a sua viajem extre-ma-mente devagar. De repente e sem aviso, o comboio abre caminho por entre os ferros, entra em modo de todo o vapor. Pela janela podemos ver que o dia perdeu o peso das nuvens e dos dias escuros, o verde e castanho dão lugar à cor, chegamos à Estação da Primavera!

Que privilégio é assistir a estes ciclos que se necessitam e se acompanham. Que alegria sermos parte inclusiva de toda esta energia que se decompõe para renovar, que aprendeu com a Estação Fria a ganhar forças para se tornar Primavera.

Nesta altura do ano alguns de nós sentem vontade de se abrirem em flores, centenas delas, sentimos que temos que dar ao mundo toda esta energia de possibilidades que poderão ou não virar frutos mas, por vezes ainda estamos com o assento e o traseiro frios e custa-nos a ter vontade nem forças para nos desdobrarmos em flor.

É uma época de energia de ínicios, que vem do Oriente, do Este, um nascer de um novo Sol que nos permite ser crianças, com um sonhar mais realizado por ser desprovido de preconceitos. Na MTC estamos no Elemento Madeira ou Árvore que corresponde a esse mesmo ponto cardial e que está ligado à visão, ao crescimento e à criatividade, ao som do chamar à distância, o grito que pode convidar mais a juntarem-se à nossa causa mas que também pode se soltar por mera frustração ou como forma de agressão.

A Primavera está associada à energia do Fígado e da Vesícula Biliar, orgãos que ajudam na simplificação para uma produção de um movimento mais efectivo, o sanguíneo e o digestivo. Nesta altura do ano a energia do Fígado está a aumentar e é normal que se desenvolva um pouco de hipertensão arterial já que o resto da circulação não está a contar com o aumento do volume de fluído que está a ser libertado por este orgão, tal como a seiva das árvores que nesta altura começa a fluir em muito maior quantidade e velocidade que é o que condiciona as plantas a desabrochar. Este orgão, segundo a visão tradicional, está também ligado às emoções, ao expressar-mos de forma saudável o que sentimos, ao não deixarmos a irritabilidade ou apatia tomar conta de nós.

É normal que estas duas versões de nós mesmos cheguem à superfície: a quietinha e a hiper-activa, os dois estados polares que demonstram um desiquilibrio do Fígado.

Mas afinal onde está a virtude? Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra...

A vitalidade de Primavera está no aprender a sermos flexíveis, ao reagirmos de forma criativa às dificuldades que nos enfrentam, o sabermos guardar o tanto que aprendemos no Inverno e libertarmo-nos do tanto que é necessário para vivermos este novo ciclo, ou seja, a representação real da função do Fígado: ao mesmo tempo que armazena o sangue consegue reabastecê-lo de energia vital e nutrição para garantir um novo fluxo do mesmo de forma sana.

O processo por que passamos no Inverno é de interiorização e acaba por haver uma bioacumulação de tóxinas no corpo, seja por haver menos movimento físico ou o combater do frio nas gorduras que nos trazem o calor do Sol. É importante pensarmos nesta Estação como se fosse de certa forma o nosso renascer, daí ser a época dos jejuns ou dos tónicos de Primavera.

Sentimos vontade de vos falar do que sabemos sobre a Gemoterapia, a terapia embevecida pelos brotos de Primavera.

Esta vertente fitoteraupeutica é apelidada pela origem latina de gemma, que significa broto, rebento ou botão mas também jóia ou pedra preciosa, que logo nos mostra o quanto os antigos valorizavam esta parte das plantas, a vida inteira num botão.

Os brotes de diferentes árvores e arbustos contêm toda a informação para a planta se desenvolver, como hormonas de crescimento, fitonutrientes em abundância como aminoácidos e vitaminas e principalmete um número elevado de meristemas ou células estaminais das plantas, por esta razão é que a Gemoterapia é chamada também de Fitoembrioterapia.

É este o segredo que esconde o pequeno broto, esta energia de origem primordial que transporta consigo toda a informação necessária a todas as etapas de vida vegetal. Os brotos não são os único orgãos da planta a conter meristemas, estes existem em todos os tecidos embrionários das plantas como as pontas das raízes, as cascas (do tronco e dos ramos) e as sementes todos eles possuem células-mãe se bem que em menos quantidade e alguns dos principíos activos que se encontram nos brotes não se conseguem encontrar nas partes adultas ou amadurecidas das árvores ou arbustos.

Estes gomos ao serem macerados em água, glicerina vegetal e álcool libertam todos os possíveis constituíntes activos que armazenam, tal como a energia vital destes micro-extensos pedaços que parece explodir no verde vivaz com que se mostram. A tintura depois de macerar um ciclo lunar pode ser diluida ou ingerida de forma integral e estimula as células imaturas dos tecidos e órgãos de forma a estas poderem substituir outras células que deixaram de funcionar ou que estejam danificadas. Funcionam como uma forma de medicina informativa, quase como se os brotos estivessem a contar-nos o segredo da sua criação para nos inspirarem a encontrar-mos a nossa fonte de regeneração interior.

Tal como na fitoterapia geral, cada planta tem as suas indicações, no entanto existe uma sensação de origem comum que atravessa todas elas e todas as espécies vivas que lhes seguiram os passos. É considerada uma terapia geral de drenagem celular, uma vez que age primeiramente para desintoxicar e limpar os órgãos de eliminação. Em seguida, drena as toxinas acumuladas, produtos de desperdício metabólicos e detritos das células que são descarregados através dos recém-optimizados canais de eliminação. Por isso é que os extractos da gemoterapi são muitas vezes usados também na homeopatia pois tomados préviamente à terapia homeopática prepararam o corpo para a absorção mais sensível.

Quando falamos na medicina que vem do poder vertical das árvores não nos podemos esquecer de enunciar a reunião de energias subtis que dão forma à árvore: a energia cósmica que vem do Céu até aos brotos, flores, ramos e mais tarde folhas e frutos e também as energias telúricas que chegam pelas raízes e que veêm da Terra. É esta energia vital que foi angariada na Terra e agora puxada a cima pelas forças estelares que permeia a gemoterapia com os seus poderes curativos.

Porque as florestas são também dispensários de saúde, não só consumível mas presenciável, o jardim do paraíso está afinal em todos os bosques! Neste renascer primaveril podemos pedir-lhes a ajuda para nos ensinar a sermos completos, sem bloqueios nem anseios, a apreciarmos cada flor enquanto nos encostamos a ela, como se o tempo parasse nesse segundo.

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