. BLOOM SATIVUM .
SETEMBRO
"Lua nova setembrina, sete luas domina."
Não conseguimos fazer-vos chegar esta carta ainda em Setembro, mas esperemos que consigam retroceder no tempo, pelo menos um dia ou dois... Afinal a lembrança de Setembro ainda habita em nós!
Não há nada que nos dê um sentimento de conexão tão profundo como o colher alimento que vem da Natureza, na sua forma mais silvestre, mais inesperada. A nossa ancestralidade de recolectores vem facilmente ao de cima: a visão fica apurada, os sons vêm mais dentro, os cheiros ficam mais intensos e de repente estamos a viajar no tempo para um destino que fica bem perto das nossas origens.
Ao voltarmos dessa travessia nunca mais somos os mesmos, essa parte que achávamos inalcansável por nos ser tão distante na linha do tempo passa a ser o lugar secreto que recorremos com frequência porque nos sentimos com sentido. Todos temos este lado mais primitivo, todos nos sentimos bem na sua pele porque nos encontramos num lugar onde tudo está ligado, onde tudo vive em relação mesmo que na solidãodo nosso respirar ofegante.
Foi a partir do Equinócio de Outono que a Lua começou a ganhar território em relação ao Sol. Tal como o ditado nos ensina só daqui a 7 luas é que virá o Equinócio de Primavera e com ele saíremos da escuridão das noites longas, mas vamos parar e viver o momento. Vamos dar espaço a nós mesmos e aprender a descer com o Sol, aprender que a luz reflectida na Lua nos permite ver no escuro. Este é o tempo de descartar a ideia que nos foi imposta, a ideia de que na escuridão habitam os seres mais temíveis, os medos mais assombrosos.
Na escuridão existe o nós mesmos e mais ninguém em quem depender.
Este é o tempo de deixar-mos os medos olharem-nos nos olhos e dizerem as palavras que nos querem ensinar e não aquelas que outros nos fizeram acreditar. É o chegar a casa de uma caminhada, ainda na pele de animal, e estarmos felizes por fazer um jantar delicioso para nós mesmos e por podermos contar a nossa própria a história, mas a quem?
Àquela parte de nós que anseia ouvir a história recontada, o que a caminhada foi de verdade.
Não é fácil o percurso. Não é de todo o caminho mais delicado, este o de nos amarmos a nós mesmos. Ano atrás de ano existe este tempo que nos lembra de que a escuridão é necessária, que em nós mesmos temos o feminino e o masculino porque sempre esperamos.
Ao perto ouço o som de um grilo, ao longe a garça-real que sobe o vale até ao ninho. Escrevo-vos de uma noite solitária, uma das muitas que virão aí, uma noite que ensina a acolhermos as Estações como elas vêm porque com elas aprendemos a celebrar o que nós somos.
"Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio"
Oswaldo Montenegro
Plantas que se fazem Ouvir
O que mais gosto na Terra é o facto de me ser provado que estou errada, ser surpreendido no suposto imutável que muda constantemente. As plantas que consideramos companheiras de vida continuam a ensinar-nos, quando menos esperamos lá estão elas a transmutar, a mostrar qualquer coisa que antes não estava lá.
Depois de meses de meditação e estudo com esta árvore, hoje é o dia de deixar escrito parte do que ela nos tem ensinado nas muitas frutas de uma só semente que salpicam os seus ramos.
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