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Rita Roquette

Da Sombra das Árvores

"Quando para minha consolação e refrigério eu me desvio da estrada em que sucumbo de fadiga mordido pelo sol, e vou descansar um momento à sombra de uma árvore, não pergunto se essa árvore dá peras ou se dá pilritos, se da sua resina se pode extrair um bálsamo ou um veneno, se dos seus filamentos se pode entrançar uma corda para o sino ou um baraço para a forca, se do seu tronco se podem serrar as pranchas para construir a arca ou para armar o patíbulo.

A única coisa que lhe pergunto é se ela tem, para ma dar, uma boa sombra fresca, macia, aromática; e se a tem, eu, que nesse momento não sou um negociante de produtos alimentícios, nem um madeireiro nem um químico nem um engenheiro construtor, mas sim um caminheiro prostrado, eu declaro, não só em meu nome, mas em nome da ciência, em nome da moral, em nome da religião, em nome do homem e em nome de Deus, que essa árvore é boa, é útil, é necessária não pelos materiais que ministra, não pelos frutos que produz, nem pelas substâncias que segrega, mas única e simplesmente por uma condição imponderável e etérea, da qual em dada crise pode depender o meu destino inteiro e toda a minha vida; e essa condição é a de se interpor no espaço entre mim e o céu, e projetar sombra. Na esfera das múltiplas vegetações do nosso espírito a ciência e a filosofia fornecem as substâncias alimentícias e ministram os materiais das construções; a arte é a árvore santa, a árvore da sombra para os peregrinos do pensamento."


Ramalho Ortigão em As Farpas. Crónica Mensal da Política, das Letras e dos Costumes, Janeiro de 1877

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