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Newsletter de Fevereiro


. BLOOM SATIVUM .

FEVEREIRO

"Alegrias Entrudo que o amanhã será Cinza"

Quem é que este ano já sentiu o cheirinho das mimosas em flor?

Há quem queira abolir as espécies ditas invasoras a todo o custo porque acham que estão a mais, porque tiram o lugar das outras que estavam lá há mais tempo, das ditas nativas.

Há os que querem fechar as fronteiras para não deixar os emigrantes entrarem e se estabelecerem em novos territórios, isto quando muitos já foram emigrantes eles mesmos.

Há quem use a desculpa de um dia em especial para se rir de declarações tão determinadas.

E nada melhor que a maravilhosa nuvem de flores de uma árvore alvo de ataque intensivo para nos fazer rir disto tudo e nos sentirmos levezinhos...

A ciência confirmou no século passado que os continentes estiveram um dia unidos e formavam um só território chamado de Pangeia. Sabemos que os Homens foram primeiramente nómadas, os animais e as plantas migravam e adaptavam-se a diferentes habitats mesmo aqueles com temperaturas extremas.

Então porque é que ainda existe o medo em relação ao que vem de longe?

A Terra é de quem a estima e todos temos um papel a desempenhar neste Carnaval a que chamamos biodiversidade, até a Mimosa que a muito custo continua a cuidar dos solos expostos e exaustos...

Afinal isto é o Entrudo: o rito de passagem da saída do escuro do Inverno para a luz radiante da Primavera, o ritual de libertação por excelência onde os papéis são invertidos, as normas de comportamento suspensas e a originalidade individual é expressa sem timidez.

O que esteve reprimido pode agora sentir o alívio de vir cá para fora sem reprimendas e

isto é a expressão mais pura da Natureza, a liberdade de ser sem julgamento.

Mas na nossa Natureza também existem polos opostos que nos instigam a conhecer outras formas para termos a consciência da totalidade, para não nos deixarmos ficar estáticos numa forma de ver ou pensar. Talvez seja por isso que alguns dos festejos de Carnaval passem por nos mascararmos de coisas que nunca pensariamos ser, mesmo que o ridicularizemos a verdade é que dá para sentirmos o que é estar debaixo daquela pele e passar aceitá-lo, nem que seja só mais um bocadinho.

Depois desta expansão toda vem o oposto: a Quaresma, um tempo racionado.

Estes 46 dias, 40 dias mais 6 domingos, são o mesmo número de dias que distanciam a Candelária do Equinócio de Primavera. Antes das religiões associarem este período de abstinência a questões morais este era um tempo de confrontarmos uma certa escassez de alimento. Hoje no mundo da acessibilidade é difícil de compreendermos a escala do jejum de quem estava dependente do que colhia. Nesta altura do ano era um entretempo em que o que havia em reserva já não era muito: a lenha e comida guardada no Outono começavam já a não ser muita, as galinhas ainda não estavam a pôr ovos, as plantas, tanto as espontâneas como as semeadas, ainda estavam a despontar por isso não nos conferiam uma fonte forte de alimento mas suportavam um regime mais leve. O jejum estava por isso ritmado com as Estações, a escassez seguida da abundância e vice-versa.

O mundo natural está a passar por um processo de transformação, num acordar para a grande mudança que é a Primavera. Nós, como parte integrante, estamos também com essa vontade de renovação e por isso um período de criação de novos hábitos vem mesmo a calhar. Não é um castigo, é só uma maneira de liberarmos uma outra parte de nós que se sente atafulhada pelo nosso padrão habitual. Podemos achar que é uma boa altura para deixarmos certos alimentos de lado como o caso da carne, do álcool, do açúcar, da cafeína, dos lacticíneos ou do glutén. Mas pode ser também uma mudança de padrão de comportamento como passarmos a ver menos televisão, substituir o criticismo por um ponto de vista mais positivo, deixarmos de nos preocupar, de nos sentirmos irritados sempre com a mesma coisa ou instaurar pequenos rituais quotidianos que nos ensinem a cuidar melhor de nós mesmos.

As plantas espontâneas que nos ajudam a purificar estão agora mais pujantes que nunca

e a sua forma exuberante é a maneira de nos perguntarem:

"Vamos começar de novo?"

Para os que acham que não vale a pena começar de novo,

olhem para o lado e aproveitem o amarelo estonteante das Mimosas!

"A renúncia é a libertação. Não querer é poder."

Fernando Pessoa

 

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