. BLOOM SATIVUM .
MARÇO
"Em Março, chove cada dia um pedaço."
Que alívio este de sentir que há ainda provérbios que se adequam a estes anos tão persistentemente tórridos.
Ai Março que alívio este de choveres a cada dia um pedaço!
É no meio da lama que nos vemos. Entre as sementes e os rebentos, voltamos a acompanhar uma terra que nos quer como companhia. Os chamamentos não vêm só do verde que se vai espalhando nem só das flores que vão arrebentado, nem pelos dias esticados como pretexto para querermos viver mais o lá fora. Vem de tudo isso e de uma vontade imensa de nos querermos mexer, sairmos de um estágio que já estava mesmo a dar as últimas.
Entre os meados de chuveiros grossos lá se abriu o Sol, num dia de Equinócio de Primavera memorável. O começo do canto dos pássaros antes da luz do dia ser vista, o perceber do zum-zum das abelhas de colmeia e as solitárias, o tirar das camadas de roupa e finalmente um pôr-do-sol deslumbrante que nos lembra que o calor está quase a ser convencido a ficar:
Bem-vinda Primavera,
que bom é sentir a vida que brindas a todas as direcções, as muitas vidas que fazes borbulhar dentro de nós! Não há como não participarmos nesta tua festa de abastança e fertilidade. Gritas-nos que está na altura de pôr cá para fora tudo aquilo que andámos a incubar nas Estações frias, que vontade temos de largar as roupas que cheiram a fumo pesado de Inverno...
Aprendemos com a Roda do Ano que existe um girar permanente e complementar que nos envolve nos eternos processos naturais. Os ciclos apresentam-se em círculos, acreditamos que cada fase é uma quadra do poema e não o poema inteiro. Vimos com o que foi e já sentimos o cheirinho do que virá mas o agora dá-nos a Ágora, o local de reunião de vivência comum. Juntos nesta roda-viva vemo-nos como participantes obrigatórios, pela alegria de nos concebermos como seres dançantes e com propósito.
Sentimo-nos embrenhados nas Estações, olhamos a Lua a reflectir-se nos seus diferentes espelhos. Como se nós fossemos astros, também sentimos que cada fase é uma etapa que ecoa dentro de nós.
As luas negras ou novas trazem com elas uma interiorização típica de um Inverno, a Lua cheia o oposto: uma exteriorização, uma vontade de perpetuar o fora. Com esta primeira Lua Cheia de Primavera que é já no próximo sábado vamos sentir essa vontade a iluminar-se-nos.
A Páscoa é sincronisticamente marcada no primeiro domingo durante ou após a primeira lua cheia que se segue ao Equinócio da Primavera, será uma sorte casual? Será que o que celebramos é só o ressuscitar de alguém que viveu há muitos anos e que foi exemplo de Paz? Ou será que somos nós próprios quem tem que arriscar sair do casulo que nos aqueceu no Inverno?
Vamos lá experimentar fazer o esforço motivador de passar de folha a flor!
"Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida." Florbela Espanca
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