14 de Junho, Ghent NY
Saímos de Woodstock ontem à noite, depois de passarmos um tempo em convivência estranha entre o mosteiro Budista Karma Triyana Dharmachakra e o que é hoje o local que nomeou o festival de 1969, apesar deste ter sido mudado para Bethel a umas milhas de distância, devido ao protesto da comunidade local contra o festival. Ainda hoje se sente o perfume duma época em tons de patchouli e arco-íris mas o nosso tempo foi mais passado em meditações e cânticos no mosteiro.
No caminho passamos por várias vilas na Catskill Mountains e a grandeza deste estado de New York mostra-se muito maior do que a cidade que marca um dos maiores pontos turísticos do planeta. É uma das coisas que me conforta aqui neste país, a convivência de realidades distintas e a normalidade com que são aceites. Muitas pessoas nascidas na grande cidade optam por vir viver para o rural que ainda existe e este novo ar que a altitude traz às suas vidas é prezado como a melhor forma de vida que poderiam escolher.
Chegamos a Ghent depois de uma dormida num campo que os veados nos indicaram como melhor escolha. A rapidez dos movimentos destes animais especiais é extraordinária, parece que nos sentem mesmo antes de existirmos!
Paramos mesmo em frente à escola antroposófica Hawthorne Valley School que partilha a estrada com a quinta biodinâmica Hawthorne Valley Farm. É uma pequena comunidade que partilha os ensinamentos de uma vida simples entre a educação, a criatividade e espiritualidade e calhou-nos no mapa como quase todos os outros locais por que passamos: pela escolha do agora. Como todas as comunidades que são estabelecidas com propósito esta oferece as necessidades básicas para a vivência humana: uma escola, quinta, hortas comunitárias, mercado, artes e um instituto especial de que falaremos mais tarde.
A primeira pessoa com que nos encontramos foi o Jared que nos perguntou se estávamos interessados em ver o seu projecto de produção de Sauerkraut na quinta, a que claramente não podíamos dizer que não.
Tudo começou quando a quinta não conseguiu vender o excedente de produção de couve no ano de 1999 e então surgiu a ideia de produzir couve lacto-fermentada para conservar o excesso que tinham. Primeiro foi feito manualmente hoje têm mais de 100 vasilhas com mais de 10 tipos diferentes de fermentados: uma delícia para qualquer pessoa que é fascinada por fermentações e invenções culinárias como nós!
Fotografia de Hawthorne Valley Farm ©
Jared ainda nos mostou um pouco da quinta e também a padaria, que agora estava em descanso depois de uma manhã que como em qualquer outra padaria qm que se fermenta movimento e acção.
O cereal é produzido em maior parte na quinta e o método de moagem é bastante artersanal, e tudo com uma próximidade mais que local é mesmo in situ. Ainda deu para ver alguma massa-mãe e outros fermentados que aqui também são usados em todos os preparados. Agradecemos ao Jared por nos ter proporcionado aquela tarde tão enriquecedora e dissémos que voltaríamos no dia seguinte.
Depois fomos passear, tomamos o nosso banho de floresta diário e a verdade é que nos perdermos pela imensa floresta que é o jardim da escola, o mesmo jardim que crianças desde os 3 aos 18 vagueiam como se fosse a sua casa. Encontramos fortes, casas nas árvores, abrigos, jardins de fadas, pegadas frescas de urso e uma vontade enorme de ficar ali a passar a noite. Como a escola tinha acabado o seu ciclo anual na semana anterior achamos que não haveria problema e estabelecemo-nos mesmo na margem de um lago que estava cheio de sapos-touro (Lithobates catesbeianus) uma espécie muito barulhenta de sapos que por coincidência numa lua crescente de Junho estavam a querer acasalar. Depois de finalmente termos conseguido adormecer com o som que passou de ensurdecedor a hipnótico fui acordada pelo uivar do que achava ser uma matilha de cães, que no dia seguinte depois de perguntar a alguns locais percebi ser uma matilha de coiotes que vive por ali.
Esta proximidade e quase inseparabilidade entre o meio onde estamos dá-nos um conforto enorme mesmo que nos desperte de um sono profundo. Continuarei num post a seguir o resto da história porque passamos e como conhecemos um homem apaixonado pelo solo e um instituto apaixonado pelo científico-simples que a vida nos propociona.